Guia da OMS para um parto seguro

19 de abril de 2022

O Guia da OMS para um parto seguro (Recomendações da Organização Mundial de Saúde: cuidado intraparto para uma experiência positiva de parto e nascimento) recomenda a humanização nos cuidados de saúde para que seja promovida uma experiência positiva de parto para as mulheres, com respeito às suas necessidades individuais e respaldada nas melhores evidências científicas para a tomada de condutas.

De acordo com o documento, para um parto e um pós-parto seguros, saudáveis e prazerosos, os cuidados com o bem-estar emocional da mulher são tão importantes quanto os cuidados clínicos, garantindo não só que as mulheres sobrevivam às complicações do parto, se surgirem, mas também que elas prosperem e alcancem todo o seu potencial para a saúde e a vida.

Para atingir esse objetivo, a OMS reuniu recomendações para um parto e pós-parto seguros do ponto de vista clínico, e que também atendam às necessidades psicológicas e emocionais das mulheres.

humanizacao do parto

O guia da OMS para um parto seguro traz 56 recomendações, agrupadas de acordo com o momento da assistência ao parto e nascimento, sendo seus principais pontos:

  • Cuidado materno respeitoso:
    • para todas as mulheres, independente de serem de risco habitual ou de alto risco, do local onde o parto ocorre ou da classe social;
    • manutenção de sua dignidade, privacidade e confidencialidade, de acordo com uma abordagem baseada em direitos humanos para reduzir a morbidade e mortalidade materna;
    • assegurando que não ocorram maus tratos e permitindo uma escolha informada e um suporte contínuo durante o trabalho de parto.
  • Comunicação efetiva entre os cuidadores de saúde e as mulheres em trabalho de parto, usando métodos simples e culturalmente aceitáveis:
    • apresentar-se e dirigir-se à mulher tratando-a pelo seu nome;
    • dar informações à mulher e à sua família de maneira clara e concisa;
    • explicar todos os procedimentos necessários e obter consentimento verbal ou por escrito para os exames físicos a serem realizados.
  • Presença de acompanhante de escolha da mulher durante todo o processo de parto e nascimento:
    • qualquer pessoa escolhida pela mulher para promoção de um suporte contínuo, como o(a) parceiro(a), amigo(a), parente, membro da comunidade (profissional de saúde, parteira tradicional), doula, assim como respeitar o desejo das mulheres que não desejarem um acompanhante.
  • Definição e duração das fases latente e ativa do trabalho de parto:
    • A fase latente se caracteriza por contrações irregulares com a função de preparar o colo uterino, com evolução lenta da dilatação até os 5 cm de dilatação. Mulheres devem ser informadas de que a duração dessa fase é variável individualmente e não tem um limite de tempo estabelecido;
    • A fase ativa é um período (de tempo) caracterizada por contrações uterinas regulares e com dor, com uma evolução mais rápida da dilatação a partir dos 5 cm de dilatação. A duração dessa fase geralmente não vai além de 12 horas.
  • Progresso do primeiro estágio do trabalho de parto:
    • A dilatação do colo do útero, que precisa chegar a 10 cm, pode ser mais demorada do que anteriormente preconizada, de 1 cm por hora. Um progresso mais lento não deve, por si só, indicar uma intervenção para acelerar o parto;
    • Antes dos 5 cm, não devem ser usadas intervenções para acelerar o parto, desde que mãe e bebê estejam bem.
  • Avaliação rotineira do bem-estar fetal:
    • Cardiotocografia não é recomendada para a avaliação do bem-estar fetal na admissão em grávidas saudáveis em trabalho de parto espontâneo;
      • Excesso de cardiotocografias aumentam o risco de cesárea e outras intervenções sem melhorar os resultados perinatais;
      • Cardiotocografia contínua restringe o uso de práticas benéficas como liberdade na posição e na movimentação da mulher, o que pode ser um fator de stress;
    • A ausculta da frequência cardíaca fetal com um aparelho de ultrassom Doppler portátil ou um estetoscópio fetal Pinard é recomendada para mulheres saudáveis em trabalho de parto espontâneo. Deve ser feita de forma intermitente em intervalos variáveis de acordo com a fase do trabalho de parto.
  • Alívio da dor durante o trabalho de parto:
    • Técnicas de relaxamento e massagem, que reduzem o desconforto, aliviam a dor e melhoram a experiencia da mulher no parto;
    • Quando necessário analgesia medicamentosa, analgesia peridural é preferível a opioides.
  • Definição da duração do segundo estágio do trabalho de parto (período expulsivo):
    • O segundo estágio é o período entre a dilatação do colo de 10 cm e o nascimento, quando a mulher tem um desejo involuntário de fazer força durante as contrações para que o bebê nasça (puxos);
    • As mulheres devem ser informadas de que a duração pode variar individualmente, ocorrendo geralmente em menos de 3 horas.
  • Posições no parto:
    • Mulheres com e sem epidural devem ser encorajadas a adotar posições de sua escolha para o parto, incluindo posições verticalizadas;
    • O profissional de saúde deve garantir que o bem-estar fetal seja monitorado na posição de escolha da mulher e, caso isso não seja possível, o motivo para a mudança na posição para esse fim deve ser claramente explicado à mulher;
    • As mulheres devem ser incentivadas a seguir sua própria vontade de fazer força.
  • Política de episiotomia (corte na vagina para facilitar o parto):
    • Não é recomendada a episiotomia de rotina ou seu uso liberal para mulheres em trabalho de parto espontâneo.
  • Pressão no fundo do útero (ou manobra de Kristeller):
    • Não é recomendada a manobra de pressão no fundo uterino para facilitar o período expulsivo.
  • Recomendações para o terceiro estágio do parto (saída da placenta):
    • O uso de medicamentos para ajudar o útero a contrair após o nascimento é recomendado em todos os partos com a finalidade de prevenir hemorragia pós-parto. O medicamento de escolha é a ocitocina (e, em sua falta, ergometrina ou prostaglandinas);
    • O clampeamento do cordão umbilical deve ser realizado após o primeiro minuto de vida do recém-nascido, para melhorar a saúde infantil e resultados nutricionais;
    • Deve ser realizada a tração controlada do cordão, por profissionais qualificados, apenas se houver necessidade de redução na perda sanguínea ou de redução da duração do terceiro estágio. Massagem uterina não é recomendada para prevenir hemorragia se a ocitocina foi utilizada.
  • Cuidados com o recém-nascido (RN):
    • RNs sem complicações devem ser mantidos em contato pele a pele com a mãe durante a primeira hora de vida para prevenir hipotermia e promover a amamentação;
    • Todos os RNs, incluindo os de baixo peso que são capazes de mamar, devem ser colocados no peito o mais rápido possível após o nascimento, quando estão clinicamente estáveis e a mãe está pronta para isso;
    • Todos os RNs devem receber 1 mg de vitamina K por via intramuscular após o nascimento (após a primeira hora em que a criança deve estar em contato pele a pele com a mãe).
  • Cuidado com a mulher após o parto:
    • Antibióticos preventivos de rotina não são recomendados para mulheres com partos normais sem complicações, mesmo nos casos em que a episiotomia foi realizada.

O projeto Parto Adequado se soma a políticas públicas e estratégias promovidas globalmente em busca da melhoria na atenção à saúde de mulheres e seus filhos, direcionadas pelas melhores evidências e ações recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Para conhecer mais, clique aqui: Parte I.

 

Andrea Silveira de Queiroz Campos, autora deste conteúdo, é ginecologista e obstetra, integra o corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein.

Parte II

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